sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O NATAL,O CULTO E A FÉ REFORMADA

Ler Deuteronômio 4:1-2 e 12:32; Romanos 12:2; Marcos 7:7-9 e 13; Gálatas 4:8-11 e 5:1; e Colossenses 2:8,16 e 23.



O Natal é uma festividade religiosa na qual boa parte da cristandade comemora o nascimento de Cristo. Além do dia de Natal, a festa da natividade, diversos outros dias do calendário eclesiástico, conhecidos como dias santos (holidays), foram separados pela igreja cristã medieval para comemorar eventos da vida de Jesus e da igreja. As festas mais geralmente aceitas são: a festa da Epifania (dia dos Reis), festejada no dia seis de janeiro, em comemoração à manifestação de Jesus aos três magos orientais (Mt 2:1-12); a Quaresma (46 dias entre a quarta-feira de cinzas e a Páscoa), relembrando a tentação de Jesus no deserto (Mt 4:1-11; Lc 4:1-12); a Páscoa, celebrada entre 22 de março e 25 de abril, comemorando a ressurreição de Jesus (Mc 16:1-8); a quinta-feira da ascensão, comemorada no quadragésimo dia após a Páscoa (At 1:9-10); e o dia de Pentecostes, celebrando a descida do Espírito Santo (At 2:1-11).[1]

Os católicos comemoram o Natal com uma missa — daí o nome em inglês Christmas (Christ + mass).[2] A maioria dos protestantes absorveu esta tradição católica, comemorando o Natal com um culto realizado na véspera ou no próprio dia de Natal, o culto de Natal. Muitas tradições foram sendo absorvidas por esta festividade, vindo a se constituir parte importante na sua comemoração. Exemplo: a ceia, a troca de presentes, o Papai Noel, a árvore de Natal, a montagem de presépios, encenações, decorações, músicas natalinas, etc.

A comemoração do Natal tornou-se, sem dúvida, uma tradição profundamente enraizada, não somente nas civilizações ocidentais, como até mesmo em alguns países orientais. Todos apreciamos as decorações, o feriado, os presentes e as comidas do Natal. É inegável que a época tem um certo charme, um clima especial, que chegou a ser personalizado no assim chamado espírito do Natal.

Provavelmente, a maioria de nós concordaria que as comemorações natalinas estão se corrompendo vez mais. Certamente muitos entre nós desaprovam os excessos típicos desta comemoração: a glutonaria, a bebedice, o consumismo desenfreado, etc. Mas devemos confessar que quase não podemos conceber a vida sem o Natal, sem as comemorações do Natal, sem a ceia do Natal, sem a árvore do Natal, sem os presentes do Natal, e, especialmente para alguns, sem o culto do Natal. Tão importante é o Natal para a cristandade ocidental em geral, que talvez não haja exagero em afirmar que, para a maioria de nós, a vida perderia parte da sua graça, sem as comemorações natalinas.

Por tudo o que foi dito, eu reconheço que me aventuro numa empreitada difícil. Meu propósito, com este estudo, é avaliar a legitimidade do Natal, do ponto de vista da fé reformada. Para isso, eu me proponho a investigar: 1) sua origem, 2) suas instituições, 3) o ensino bíblico sobre o assunto, 4) a posição reformada histórica com relação à sua prática; e 5) a considerar algumas implicações práticas das conclusões deste estudo para nós, como igreja e indivíduos.

ORIGEM DO NATAL
Não Bíblica nem na Igreja Primitiva
No Antigo Testamento, diversas festas ou cerimônias anuais foram instituídas por Deus, em comemoração a eventos importantes na história do povo de Israel, tais como a Páscoa, a Festa dos Pães Asmos, a Festa de Pentecostes, e a Festa dos Tabernáculos. Todas estas festividades eram tipológicas. Elas faziam parte da lei cerimonial judaica, e foram cumpridas em Cristo; sendo, portanto, abolidas na nova dispensação — com exceção da Páscoa, que foi transformada na ceia do Senhor.

Na dispensação da graça, entretanto, nenhuma festa comemorativa foi mantida ou instituída, exceto a ceia do Senhor. Não existe texto algum no Novo Testamento, instituindo a comemoração do nascimento de Cristo; como há com relação à sua morte e ressurreição: a ceia. Na verdade, embora o nascimento de Cristo seja um fato histórico inegável, não há como determinar o dia, o mês, ou mesmo o ano em que o fato ocorreu.

O Novo Testamento registra apenas que a ressurreição de Jesus foi no primeiro dia da semana (cf. Mt 28:1; Jo 20:1), também chamado de dia do Senhor (ver Ap 1:10), o domingo (de Domini), dia em que a igreja primitiva costumava reunir-se para adoração pública a Deus (ver At 20:7 e 1 Co 16:2).

Também não há nenhum registro na igreja primitiva, anterior ao terceiro século, da comemoração da natividade de Cristo[3], assim como não há registro, neste período, de comemoração dos demais dias santos mencionados acima. A Enciclopédia Católica reconhece que “o Natal não estava entre as festas mais antigas da Igreja,” visto que “Irineu e Tertuliano a omitem nas suas listas de festas”[4].

Origem Pagã
Qual é, então, a origem da festa natalina? As evidências históricas apontam para as festividades pagãs em comemoração ao nascimento do Sol Invictus (Sol Inconquistável), o triunfo do sol sobre as trevas, que marcava o solstício, isto é, o início do fim do inverno no hemisfério norte.

Muitos povos antigos adoravam o sol. Porque acreditavam que o inverno diminuía o poder divino do sol, permitindo a manifestação dos poderes das trevas, eles comemoravam o solstício, quando os dias começam a ficar mais longos. As festividades deste período davam boas vindas ao retorno do sol acendendo-se velas e fogueiras para fortalecê-lo e expulsar o inverno.

Antes que houvesse qualquer celebração natalina cristã, já era comemorado na Escandinávia, no mesmo período, a grande festa de Yule, celebrando o nascimento do sol de inverno. Nos países de fala latina, havia, entre 17 e 24 de dezembro, as festividades conhecidas como Saturnalia — um culto ao deus Saturno, da agricultura, que encerrava-se com um feriado no dia 25. Outras festividades populares em comemoração ao deus Sol eram realizadas no mesmo período, algumas no próprio dia 25 de dezembro, como é o caso do culto a Attis, introduzido no império romano, proveniente da Frígia.[5] Segundo uma das tradições pagãs relacionadas ao solstício, uma tora de madeira era lançada ao fogo ao cair do sol do dia 24 de dezembro, a qual reencarnava na manhã seguinte em um nova árvore.

Instituição na Igreja Cristã
Não podendo erradicar estas comemorações pagãs, a cristandade as absorveu, aplicando-as à encarnação de Cristo. Assim, começou a ser praticada a festa da natividade, algum tempo antes de 336, vindo a ser oficialmente instituída, de acordo com Usener, no ano de 353 ou 354, pelo Papa Liberius (352-366),[6] sendo escolhida a data de 25 de dezembro, com vistas a substituir as comemorações pagãs mencionadas, realizadas nesse período e suprir uma lacuna inadmissível no calendário eclesiástico da época. “Temos uma Missa para cada santo, mas não há uma Missa para Cristo,” teria dito Liberius, decretando a missa da natividade de Cristo.[7]

Eis o que diz a Enciclopédia Delta Larousse, no artigo sobre o Natal:

A comemoração da data do nascimento de Jesus, no dia 25 de dezembro não obedece, como se poderia crer, a uma indicação precisa contida nos Evangelhos. Tal indicação não se encontra no Novo Testamento, sendo pois arbitrária a data da festa máxima da cristandade. Várias tem sido as suposições sobre a razão de tal escolha. A festa do solstício, consagrada ao sol na Roma pagã, celebrava-se a 25 de dezembro. Nos primeiros tempos do cristianismo, substituíram-se as festas pagãs, pelas comemorações da nova religião.[8]

A prática de assimilação de ritos pagãos tem sido, de fato, prática comum da Igreja Católica. A cristianização forçada de alguns povos, tem resultado em sincretismos religiosos comuns à igreja romana. No Brasil mesmo, as divindades e festividades africanas e populares são admitidas e até mesmo encorajadas pela igreja católica.

Conclusão
Não há precisão quanto aos detalhes das tradições mencionadas. É verdade também, por outro lado, que os evangélicos não comemoram o Natal com o sentido pagão original. Contudo, somos obrigados a admitir, com base na sua origem e instituição, que a comemoração do Natal não é prática bíblica. É, sim, uma festividade de origem pagã, revestida de roupagem cristã, decorrente da tendência sincretista típica da Igreja de Roma.



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Sobre o autor: O Rev. Paulo Anglada é ministro presbiteriano há mais de 25 anos e conhecido pregador brasileiro. Sua formação teológica inclui um bacharelado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (Recife/PE), mestrado em Teologia pela Potchefstroom University (África do Sul) e doutorado em Ministério pelo Westminster Theological Seminary (EUA). Além de pastor há vários anos da Igreja Presbiteriana Central do Pará, o Rev. Anglada tem atuado no ensino de diversas disciplinas em seminários nacionais e internacionais, nas áreas de Grego Bíblico, Hermenêutica, Manuscritologia, Novo Testamento, Teologia Sistemática e Pregação. Ele é ainda presidente da Associação Reformada Palavra da Verdade e vice-presidente da Junta de Educação Teológica do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil. Além de diversos livros, o Rev. Anglada é autor também de diversos artigos em obras coletivas e revistas teológicas.




Extraído do site: http://www.eleitosdedeus.org/natal/natal-culto-fe-reformada-introducao-paulo-r-b-anglada.html#ixzz17hDlsfLp
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